Começa um novo ano

Estão as páginas dos jornais destes dias, de final de ano e começo de um novo, repletas de prognósticos sobre o que nos espera ao longo dos próximos doze meses, em geral de tom pessimista e traçando um horizonte bastante negro. E não é para menos, tendo em consideração os graves acontecimentos dos últimos tempos, que viram designadamente a guerra voltar ao seio da Europa e com uma violência deveras aterradora!

E no entanto, convém não perder a esperança de que melhores dias virão e que as circunstâncias podem mudar repentinamente, reservando-nos algumas surpresas. Quem se atreveria a dizer, no começo de 1989, que o Muro de Berlim ia ser deitado a baixo e que o império russo na Europa Oriental se desfaria como um castelo de cartas? E ainda que a própria União Soviética, que parecia erguer-se de pedra e cal, cairia com estrondo e o motor disso tudo, o mito do comunismo internacional ficaria desacreditado e na prática se desfaria como o fumo?

Há sempre imprevistos, por isso mesmo imponderáveis pelos adivinhos do costume! E são esses afinal que nos fazem enfrentar os desafios do presente com coragem e algumas boas expectativas.

Veja-se o que se está passando no plano político nacional, com o desfazer, dia após dia, do Governo da República, que tinha sido apresentado como uma solução de estabilidade e elevada competência e mesmo audácia. Afinal era tudo conversa sem fundamento! E o que agora está acontecendo é uma reprise dos defeitos da partidarite aguda, que mina a credibilidade das instituições democráticas no nosso País e um pouco por toda a Europa e até pelo Mundo fora, ajudando a explicar o surto de populismo e autoritarismo, bem como o crescimento eleitoral de partidos anti-sistema, de convicções democráticas pelo menos duvidosas.

No Brasil, os partidários do anterior Presidente andaram semanas a fazer manifestações à porta dos quartéis, apelando, felizmente sem sucesso, a um pronunciamento militar que anulasse o resultado do voto popular; o próprio Presidente cessante, repetindo o gesto do seu modelo norte-americano, com o qual aliás se foi juntar por via aérea, recusou-se a comparecer na cerimónia de investidura do novo titular, o que é deveras lamentável. Mas a força da democracia acabou por prevalecer e isto, por menos simpatia que se tenha pelo novo titular do cargo presidencial, é animador e assegura uma mudança de políticas, da qual a sociedade brasileira carece para ultrapassar a desigualdade e a crescente emigração.

Nos Estados Unidos, há também, apesar de tudo, alguns sinais animadores, apesar dos factores divisivos da sociedade, que parecem prenunciar uma espécie de nova Guerra Civil. Já lá vão mais de cem anos sobre a confrontação entre os estados do Norte e do Sul, por causa da abolição da escravatura, mas convém lembrar como essa guerra foi terrível, traduzindo-se num verdadeiro morticínio, por causa do uso de novas armas. A repetição de um tal confronto teria hoje resultados muito piores! A vaga “trumpista” não teve a força que lhe tinha sido antevista e a sua figura de referência está a revelar-se como tóxica e talvez em breve venha mesmo a ser responsabilizada pessoalmente pelo incentivo ao vergonhoso assalto ao Capitólio, destinado a sabotar os resultados da eleição presidencial anteriormente realizada. Por outro lado, mantem-se firme a posição unânime do Presidente e do Congresso em apoiar a Ucrânia na sua heróica resistência à invasão russa.

Esta é outra razão para manter alguma esperança na melhoria do panorama geral do Ano Novo. Parece cada vez mais evidente que a Rússia não está conseguindo alcançar os seus objectivos militares e que perde terreno. Para manter animadas as suas hostes, o ditador russo ameaça com o recurso a armas secretas, nisso imitando Hitler quando a derrota se tornava evidente, e com o uso de armas nucleares, o que só pode qualificar-se como repugnante; entretanto vai enchendo a medida dos seus crimes de guerra, mandando bombardear, pela calada da noite, zonas residenciais, escolas e hospitais, isso para além das práticas de tortura, violação e assassinatos de civis, nas zonas que ilegalmente ocupa. E já mandou destruir as infraestruturas de abastecimento de água e energia, condenando a população ucraniana a condições horríveis de sobrevivência face ao frio do Inverno. Faltam as palavras para repudiar a agressão russa e também para louvar e apoiar a força dos pobres ucranianos, de resto pelos vistos já habituados a servir de bombo aos seus arrogante e cruéis supostos senhores, os governantes moscovitas.

Contando com o apoio dos países cujos governos estão realmente comprometidos com os valores da Liberdade e da Democracia, a Ucrânia merece prevalecer e oxalá seja já em 2023 que lhe sorriam as condições de paz e de reconstrução, que aliás serão motivo de júbilo generalizado para os defensores da Paz entre todas as Nações.

João Bosco Mota Amaral

(Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo Ortográfico.)