Sobre a importância estratégica dos Açores

A arrancada das novas instituições democráticas de governo próprio dos Açores ficou assinalada pelo início de um processo de desenvolvimento económico, social e cultural das nove ilhas do nosso Arquipélago. Havia que atender com natural prioridade às gritantes carências daquelas ilhas menos equipadas, por terem sido esquecidas e mesmo abandonadas pelos poderes públicos, ao longo de gerações e daí o empenho em avançar logo com a construção nelas de portos e aeroportos, estradas, escolas e hospitais. Mas desde sempre se deixou claro que o nosso projecto era desenvolver de forma harmónica o conjunto da nossa Região Autónoma, o que implicaria não deixar ninguém para trás, incluindo obviamente as ilhas maiores e as respectivas populações. Insisto neste ponto porque tenho verificado algum esquecimento, por parte de pessoas decerto bem intencionadas, acerca do muito que foi feito, nesses tempos já longínquos, também nas ilhas que se destacavam do conjunto, em concreto a Terceira e São Miguel, por já beneficiarem de um número razoável de equipamentos colectivos infraestruturais. Desde logo quanto à primeira citada, convém recordar a grande mobilização de meios, humanos e financeiros, destinada a enfrentar a reconstrução dos estragos do grande terramoto de 1 de Janeiro de 1980. Para além dos milhares de fogos habitacionais reparados ou construídos de novo, nos quatro anos de duração dos regimes especiais, assumiu significado simbólico pôr de pé e devolver ao culto, com um novo esplendor, a Sé Catedral de Angra do Heroísmo, a tempo de nela se celebrar os 350 anos da criação da Diocese, vencendo as destruições do sismo e o incêndio posterior, que queimou as preciosas talhas, o órgão e muitas mais coisas. Em todo esta grande tarefa se procedeu valorizando o valioso património da cidade, depois disso e por causa disso incluída na Lista do Património Mundial da UNESCO. Na cidade-património passou a viver-se com outra alegria, bem testemunhada na tradição, então estabelecida, do desfile das marchas populares na Noite de São João. Mas não se ficou por aqui a acção do Governo Regional, que investiu muitos milhões em toda a roda da ilha Terceira, melhorando as estradas, erguendo edifícios polivalentes, construindo escolas de diversos graus de ensino e o belo Estádio João Paulo II, e arrancando com as obras do Porto da Praia da Vitória, que já tinha sido pedido pelos responsáveis locais ao nosso Rei Dom Sebastião. Nele recebi, em viagem inaugural, a fragata Gaspar Côrte Real, com a qual o Governo da República da época concluía a tarefa de modernização da Marinha Portuguesa. E quanto a São Miguel, habitualmente apresentado como o grande sacrificado da política do desenvolvimento harmónico dos Açores, protagonizada pelos sucessivos Governos a que tive a honra de presidir, também há muito a dizer. A ampliação da pista do Aeroporto de Ponta Delgada foi, sem dúvida, uma obra fundamental. Precedida de estudos técnicos pormenorizados, assumiu uma dimensão deveras impressionante. Com efeito tratou-se de refazer, em terrapleno, toda a área da Pedreira da Mata da Doca, que tinha sido cortada, em tempos anteriores, para assegurar a construção do molhe do porto de Ponta Delgada e da Avenida Marginal. Permitindo a operação em segurança de aviões de maiores dimensões, tal como previsto na na Resolução de 1980 sobre a definição da Política Aérea dos Açores, o aeroporto micaelense passou a ter um lugar decisivo na circulação de pessoas e de mercadorias em entrada e saída dos Açores. A nova aerogare veio a ser inaugurada em 1995, na altura em que foi dada a tal infraestrutura o nome do seu mais ilustre visitante. Recordo que quando se discutiu, na Assembleia Regional, o Plano Quadrienal em que se previa o arranque das obras do Aeroporto de Ponta Delgada, os Deputados do PSD eleitos na Terceira votaram contra. Mas isso não impediu que as obras fossem para a frente, nem teve qualquer consequência disciplinar ou outra, de âmbito partidário, mantendo-se a firme unidade interna do PSD, então e por muitos anos mais com as responsabilidades de partido detentor do voto do Povo Açoriano, com maioria absoluta. Não consigo enumerar todas as iniciativas tomadas pelo Governo Regional em relação à ilha de São Miguel. Entre elas destaco a construção de inúmeras escolas, das quais a Escola Secundária das Laranjeiras, inaugurada no ano décimo da Nova Autonomia Democrática dos Açores, dispondo de instalações desportivas destinadas a preparar, como então desafiei, os atletas açorianos para as Olimpíadas do ano 2000, chegou a estar incluída na lista das melhores escolas do Mundo, elaborada pela OCDE. Data também dessa época a definição de regras sobre política habitacional que viabilizaram empreendimentos com a dimensão e a qualidade do Bairro do Calço da Furna, na Fajã de Baixo; e a construção de mais de uma centena de fogos em Rabo de Peixe, nos bairros do Bom Jesus e de São Sebastião. Os programas de recuperação de habitação degradada estenderam-se aos vários concelhos da ilha, facilitando a vida a inúmeras famílias. Foram numerosos os melhoramentos introduzidos na rede viária, tendo em vista melhorar a circulação automóvel, entretanto muito aumentada, entre os maiores núcleos populacionais. As vias de saída de Ponta Delgada foram ampliadas com esse mesmo objectivo. Ensaiaram-se novos materiais para revestimento do piso das estradas, nomeadamente cimento, em vez de asfalto, no Pisão. Merece devido destaque o prolongamento da Avenida Marginal, continuado depois pela primeira fase da via rápida, desde a Rotunda de Belém em direcção à Ribeira Grande. Sacrificada, com grande pena, a Calheta de Pêro de Teive, berço longínquo da cidade, foi construída a marina e o conjunto das piscinas, estas hoje aparentemente semi-abandonadas. Não pode ficar esquecido o arranque da construção do Hospital do Divino Espírito Santo, que veio a ser concluído e posto a funcionar pelo Governo Regional do PS, liderado pelo Presidente Carlos César. A iniciativa privada ia entretanto e naturalmente avançando, surgindo empresas várias, novos hotéis e empreendimentos habitacionais. A população apercebia-se da dinâmica desenvolvimentista desencadeada e o peso do partido político maioritário foi aumentando em cada nova eleição, desde 6 até atingir 13 Deputados num total de 18, então atribuídos a São Miguel, nas eleições de 1992, as últimas a que concorri para o cargo de Presidente do Governo. João Bosco Mota Amaral