As imagens que diariamente nos chegam pela televisão, relativas ao conflito em curso no Médio Oriente, são verdadeiramente chocantes. Na terra por onde andou Jesus, há por estes dias guerra, destruição, morte, fome e sede, ódio à solta, como pensávamos já ser impossível existir.
É especialmente comovedor o olhar atónito das crianças perante o triste e desolador espectáculo que lhes é proporcionado. Isto, claro, para as que sobrevivem aos cruéis bombardeamentos, porque são muito numerosas as que morrem soterradas entre os escombros dos edifícios derrubados e para essas já se acabaram todos os sofrimentos e também as esperanças que qualquer vida sempre alberga.
Gaza é um estreito corredor entre Israel e o Egipto e por ele terá certamente passado Jesus infante, levado nos braços de sua Mãe, quando tiveram de fugir da perseguição de Herodes. Tudo isso vem narrado no Evangelho de São Mateus, logo a seguir ao episódio da adoração dos Reis Magos, vindos do Oriente, guiados por um singular fenómeno astronómico.
Pois bem, o episódio evangélico tem um final feliz, porque, morto o rei, a Sagrada Família regressa do exílio e instala-se em Nazaré, onde Jesus vem a ter uma infância normal, crescendo entre os seus e as famílias da localidade, sem grandes surpresas pelo meio.
Mas as pobres crianças de Gaza, tal como os seus pais e demais parentes, parece que não têm futuro. Muitas serão já órfãs de pai ou mãe ou até de ambos, porventura vítimas inocentes desta vingança de todo desrazoável. Porque é muito difícil não reconhecer que os limites do fundamento da legitimidade da operação militar em causa foram há muito totalmente ultrapassados.
Os apelos para um cessar fogo, ao menos humanitário, têm caído em orelhas moucas. E assim não vai haver este ano Natal, nem em Gaza, nem na Cisjordânia, nem em qualquer outra parte sob a Autoridade Nacional Palestiniana, tal é a sanha com que os fundamentalistas fazem coro com os militares e vão colaborando na chacina em curso. E ao contrário do que pode parecer, nem todos os árabes são muçulmanos, pois entre eles há também cristãos, injustamente agora privados da alegria da celebração anual do nascimento de Jesus, Deus feito homem para nos garantir a salvação eterna.
Ao menos nas nossas paragens atlânticas dos Açores tal não vai acontecer. Feliz Natal e Bom Ano Novo para todos!
João Bosco Mota Amaral